Tudo começou no ano de 1.998, mês de agosto para ser mais preciso;
trabalhávamos na CCSv (Companhia de Comando de Serviços) do Nono Batalhão de
Polícia Militar do Interior do Estado de São Paulo, três Policiais Militares
que naquela época enfrentavam problemas de incompatibilidade com as idéias defendidas pela Corporação e que segundo normas da Polícia Militar, seriam mais úteis trabalhando em serviços internos do que externos, nas ruas.
O convite inicial partiu do policial Luiz Antonio Gallina que já
trabalhava com jovens e crianças carentes e descobriu através de documentos que
havia naquela época um projeto do Governo do Estado de São Paulo denominado
“Adote uma Escola”, que pretendia através de uma parceria com a Polícia Militar,
que policiais em horário de expediente saíssem dos Quartéis e prestassem algum
tipo de serviço junto à Secretaria da Educação (Escolas), ajudando os
professores e a comunidade escolar a se integrarem melhor com a Polícia
Militar, ajudando assim na diminuição das ocorrências envolvendo alunos.
Na época fui convidado pelo policial Gallina que insistiu muito que eu me
integrasse ao projeto e após muita resistência acabei cedendo aos apelos do
amigo que também vinham de encontro ao meu interesse de sair um pouco de dentro
do Quartel, tipo de serviço do qual nunca gostei muito.
Após me convencer, o próximo passo do policial Gallina foi o de convencer
o nosso chefe, um oficial muito dedicado e amigo, Capitão PM João Carlos
Sproesser Mathias, a me liberar para trabalhar nas ruas novamente, fato que deu
muito trabalho tendo em vista meu comportamento naquela época não estar dentro
do que nos era imposto pela PM, tínhamos uma opinião de que muitas coisas eram
ultrapassadas e precisavam de mudanças, mas havia e ainda há muita resistência
sobre novas ideias dentro da Corporação, mas depois de muita conversa nosso
chefe resolveu dar um voto de confiança para nosso grupo, confiança que foi
fundamental para que nosso trabalho atingisse o nível a que chegou e também
fato que marcou o início do nosso trabalho que hoje é feito 90% baseado na
confiança no Ser Humano e principalmente na capacidade do ser humano de poder
ter seu comportamento modificado através de uma palavra ou simplesmente de um
gesto de amizade e carinho.
A partir daí durante cerca de dezoito meses mantivemos um trabalho de
polícia comunitária na região Sul da cidade, mais precisamente na EE Sylvia
Ribeiro de Carvalho (2º Grupo da Nova Marília), onde levávamos para a
comunidade local noções de relacionamento e convivência social, cidadania,
segurança, redução da violência, trabalhos comunitários, entre outras, tudo
através de palestras e encontros com a comunidade local onde em conjunto
encontrávamos soluções para os problemas locais.
Após essa experiência, rodízio de policiais que passavam pelo projeto e que
acabavam desistindo e abandonando o trabalho, devido principalmente aos
horários extras que trabalhávamos, pois deveríamos sempre estar à disposição
para atender as solicitações da comunidade o que muitas vezes acontecia em
horário de folga. Foi assim que no final do ano de 1.999 surgiu, numa conversa
informal, uma idéia no grupo que deveríamos estender aquele nosso trabalho, que
não ficássemos somente naquela escola e sim passássemos adiante aquele trabalho
que era tão bem recebido pela comunidade escolar, que atendêssemos o maior
número de escolas possível, mas como faríamos isso, de que forma mudaríamos o
trabalho se aquele projeto era estruturado daquela maneira?
Foi dessa atitude do grupo, que naquele exato momento foi obrigado a
convidar mais um policial, de nome Antonio Alves da Silva Neto para que
reforçasse a equipe e pudéssemos por em prática a nova idéia de ampliação do
projeto.
Já no início de 2000, tivemos a desistência de um dos policiais do grupo
que por motivos de desânimo e stress resolveu voltar para o policiamento que
achava bem menos oneroso que aquele trabalho e mantivemos assim um grupo de
três policiais que deram então início a um novo caminho para o trabalho e
resolvemos ali realizar palestras educativas sobre os temas “violência, drogas
e cidadania”.
Com o passar de tempo fazendo palestras aleatórias começamos a perceber a
carência de informações que as pessoas tinham sobre esses assuntos e começamos
a procurar maneiras de também nos aperfeiçoarmos sobre os diversos temas
propostos e principalmente como poderíamos explorar esses assuntos de uma
maneira nova, que fosse de fácil entendimento e principalmente que agradasse o
nosso público e transmitisse de uma maneira descontraída, porém séria, esse
assunto tão polêmico que são as drogas e a violência.
“Devemos falar para as pessoas o que elas querem ou esperam ouvir de nós
e não o que queremos que elas ouçam, se fizermos isso conseguiremos sucesso no
nosso trabalho”.
Policial Silva Neto.
Surge daí a ideia de fazer um
curso que nos desse capacitação suficiente para desenvolver o assunto proposto
e começa aí a nossa história, a história do “Projeto ViVa!!”.
Cada um dos policiais teve um motivo particular para aderir ao projeto e
lutar pela sua implementação, o policial Gallina sempre gostou de trabalhar com
crianças e adolescentes e manteve-se na idéia, pois tinha tudo a ver com o
trabalho que já realizava a mais de quinze anos, o policial Neto lembrava-se de
um fato ocorrido com a PM, em Diadema, fato muito divulgado pela mídia onde um mau
policial anunciado como “Rambo”, esse policial havia matado uma pessoa por
motivo injusto e até porque não dizer imoral, ele declarou que quando aconteceu
aquele fato em Diadema, no dia seguinte ele estava indo para o trabalho, e as
pessoas olhavam para ele e ele percebia no olhar delas que queriam feri-lo,
olhavam com desprezo e ele se sentiu muito mal com aquilo, pensou: “será que
pensam que aquele mau policial sou eu, que sou o “Rambo” e a partir daquele
momento decidiu que um dia provaria para as pessoas que aquele mau policial não
era ele, que era um, entre os milhares de bons policiais que prestam serviço
para a população que provaria isso de alguma maneira e quando surgiu a ideia das palestras por policiais viu que era sua chance de explicar que ele não é nem
nunca será o “Rambo”.
No meu caso começou muito longe, quando eu tinha 19 anos e durante o
velório do meu pai eu fui abordado por uma Viatura da PM, na esquina da minha
casa e fui muito maltratado pelos policiais, após uma abordagem indelicada e
ríspida, naquela situação, alguns amigos que me acompanhavam explicaram aos
policiais que estávamos ali devido ao falecimento do meu pai e que os olhos
vermelhos não eram efeito de algum tipo de droga e sim da tristeza de uma
perda, me lembro de que após a injusta abordagem foram embora sem nada dizer,
talvez o silêncio tenha sido o pedido de desculpas.
Tinha e tenho até hoje, os policiais como meus heróis, como muitos
adolescentes têm e apesar daquela grande decepção decidi que mesmo assim
realizaria meu sonho de ser policial, mas não seria um policial como aquele,
seria bem melhor e mais justo que eles.
Conseguimos realizar esse nosso sonho logo em seguida, pois foi durante
essa busca de conhecimento de como fazer o nosso trabalho que Deus nos mostrou
o caminho através de uma oportunidade que tem uma linda história e a partir daí
decidimos dividi-la com as outras pessoas, o máximo que conseguirmos, pois
temos certeza de que a nossa mensagem é muito importante, importante porque
fala da principal coisa que nós temos, fala de nossas vidas, de quanto ela vale
e como entenderemos esse valor.
Essa é a meta e o ideal do Projeto ViVa!
“CONHECER O VALOR DA VIDA E DOS SONHOS E TER LIBERDADE PARA PODER
REALIZÁ-LOS”
Miguel Jefferson P. Tonhi
Projeto ViVa!