sábado, 10 de novembro de 2012

Prefácio




Durante anos de atividade policial acumulamos experiências variadas, convivemos com pessoas que geralmente atravessaram seus piores momentos, atuamos preventivamente, realizamos prisões e, apesar da consciência tranquila do dever cumprido, não podemos, como o pior cego, deixar, por opção ou comodismo, de enxergar que tudo isso pode ser em vão, que não fazemos mais que tapar o sol com a peneira, ou enxugar o chão com a torneira aberta; afinal, de que valem as boas ocorrências policiais, os fatos meritórios, se no final das contas o conjunto da sociedade não vê melhorar sua qualidade de vida?
A sociedade clama por segurança, mas a violência está presente e os meios de comunicação se incumbem de divulgá-la cada vez mais. A violência que atemoriza pessoas destrói famílias e mata entes queridos, é um fenômeno humano que se manifesta socialmente quando encontra terreno fértil.
A temática das drogas é um problema recorrente; com ele nos deparamos em qualquer lugar e a todo o momento; as drogas estão na raiz da violência que assola a sociedade e a recuperação de usuários é algo extremamente caro, inacessível à maioria da população e de eficiência questionável em grande parte dos casos.
Prevenção é, portanto, uma via mais barata e menos traumática. Mas como prevenir de forma eficaz? Falando doa malefícios das drogas, da lei e das penas que ela prevê? Ou falando da vida, que pode ser bem melhor sem elas?
Optando por falar da vida, e na busca de algo que somasse à atividade policial convencional, surgiu o livro ViVa, sem a Droga da Violência, que tem como autor, Miguel Jefferson, um dos criadores do Projeto  ViVa, e o seu principal multiplicador.
A mensagem que, levada pessoalmente as escolas, empresas, entidades em geral, atingiu dezenas de milhares de pessoas em seus primeiros dois anos, agora é transformada em livro, com a transcrição daquilo que vem sendo divulgado e tem contribuído com a reflexão do público a respeito dos problemas cotidianos relacionados às drogas e à violência.
Apresentada de forma bem humorada, uma típica família europeia vive um problema que atinge uma parcela muito significativa da nossa população, embora não aparente tanta gravidade: o alcoolismo, que destrói e desagrega.
A narrativa do encontro com quatro crianças moradoras da rua, por outro lado, leva o leitor à reflexão de um problema presente, inegável, mas que as pessoas e geral fazem questão de não ver: crianças abandonadas envolvidas com pequenos delitos, drogas e prostituição.
Ler ou ouvir essa história nos faz projetar suas personagens nas crianças com quem convivemos; qualquer um poderia estar vivendo aqueles enredos, não fosse um outro fato, uma ou outra decisão tomada em algum momento perdido no passado; muitos dos que vivem na rua abandonaram seus lares por conta do alcoolismo dos pais; qualquer pessoa poderá, se permitir que se reproduzam s mesmas condições, ter o desprazer de ver os seus entes queridos naquela situação...
O grande mérito do Projeto ViVa!, e agora deste livro, é possibilitar que as pessoas vejam de uma forma muito clara que seus maiores problemas são criados ou mantidos por si mesmas e, e, algum momento de suas vidas, podem ser interrompidos ou alimentados.
Com este livro, vemos que a Vida é o maior de todos os bens, sendo imprescindível ter consciência de seu valor; o Conhecimento é a grande arma para se valorizar e preservar a vida, a Liberdade permite que as pessoas realizem seus Sonhos, e estes, os sonhos, fazem com que a vida valha a pena.
Respeitando esses princípios e procurando fazer Amizades que também saibam valorizar esses bens, conseguiremos alcançar a Felicidade que é tudo o que o ser humano realmente procura.


Marília, 27 de abril de 2003.
JOÃO CARLOS SPROESSER MATHIAS

Nossa História


Tudo começou no ano de 1.998, mês de agosto para ser mais preciso; trabalhávamos na CCSv (Companhia de Comando de Serviços) do Nono Batalhão de Polícia Militar do Interior do Estado de São Paulo, três Policiais Militares que naquela época enfrentavam problemas de incompatibilidade com as idéias defendidas pela Corporação e que segundo normas da Polícia Militar, seriam mais úteis trabalhando em serviços internos do que externos, nas ruas.
O convite inicial partiu do policial Luiz Antonio Gallina que já trabalhava com jovens e crianças carentes e descobriu através de documentos que havia naquela época um projeto do Governo do Estado de São Paulo denominado “Adote uma Escola”, que pretendia através de uma parceria com a Polícia Militar, que policiais em horário de expediente saíssem dos Quartéis e prestassem algum tipo de serviço junto à Secretaria da Educação (Escolas), ajudando os professores e a comunidade escolar a se integrarem melhor com a Polícia Militar, ajudando assim na diminuição das ocorrências envolvendo alunos.
Na época fui convidado pelo policial Gallina que insistiu muito que eu me integrasse ao projeto e após muita resistência acabei cedendo aos apelos do amigo que também vinham de encontro ao meu interesse de sair um pouco de dentro do Quartel, tipo de serviço do qual nunca gostei muito.
Após me convencer, o próximo passo do policial Gallina foi o de convencer o nosso chefe, um oficial muito dedicado e amigo, Capitão PM João Carlos Sproesser Mathias, a me liberar para trabalhar nas ruas novamente, fato que deu muito trabalho tendo em vista meu comportamento naquela época não estar dentro do que nos era imposto pela PM, tínhamos uma opinião de que muitas coisas eram ultrapassadas e precisavam de mudanças, mas havia e ainda há muita resistência sobre novas ideias dentro da Corporação, mas depois de muita conversa nosso chefe resolveu dar um voto de confiança para nosso grupo, confiança que foi fundamental para que nosso trabalho atingisse o nível a que chegou e também fato que marcou o início do nosso trabalho que hoje é feito 90% baseado na confiança no Ser Humano e principalmente na capacidade do ser humano de poder ter seu comportamento modificado através de uma palavra ou simplesmente de um gesto de amizade e carinho.
A partir daí durante cerca de dezoito meses mantivemos um trabalho de polícia comunitária na região Sul da cidade, mais precisamente na EE Sylvia Ribeiro de Carvalho (2º Grupo da Nova Marília), onde levávamos para a comunidade local noções de relacionamento e convivência social, cidadania, segurança, redução da violência, trabalhos comunitários, entre outras, tudo através de palestras e encontros com a comunidade local onde em conjunto encontrávamos soluções para os problemas locais.
Após essa experiência, rodízio de policiais que passavam pelo projeto e que acabavam desistindo e abandonando o trabalho, devido principalmente aos horários extras que trabalhávamos, pois deveríamos sempre estar à disposição para atender as solicitações da comunidade o que muitas vezes acontecia em horário de folga. Foi assim que no final do ano de 1.999 surgiu, numa conversa informal, uma idéia no grupo que deveríamos estender aquele nosso trabalho, que não ficássemos somente naquela escola e sim passássemos adiante aquele trabalho que era tão bem recebido pela comunidade escolar, que atendêssemos o maior número de escolas possível, mas como faríamos isso, de que forma mudaríamos o trabalho se aquele projeto era estruturado daquela maneira?
Foi dessa atitude do grupo, que naquele exato momento foi obrigado a convidar mais um policial, de nome Antonio Alves da Silva Neto para que reforçasse a equipe e pudéssemos por em prática a nova idéia de ampliação do projeto.
Já no início de 2000, tivemos a desistência de um dos policiais do grupo que por motivos de desânimo e stress resolveu voltar para o policiamento que achava bem menos oneroso que aquele trabalho e mantivemos assim um grupo de três policiais que deram então início a um novo caminho para o trabalho e resolvemos ali realizar palestras educativas sobre os temas “violência, drogas e cidadania”.
Com o passar de tempo fazendo palestras aleatórias começamos a perceber a carência de informações que as pessoas tinham sobre esses assuntos e começamos a procurar maneiras de também nos aperfeiçoarmos sobre os diversos temas propostos e principalmente como poderíamos explorar esses assuntos de uma maneira nova, que fosse de fácil entendimento e principalmente que agradasse o nosso público e transmitisse de uma maneira descontraída, porém séria, esse assunto tão polêmico que são as drogas e a violência.
“Devemos falar para as pessoas o que elas querem ou esperam ouvir de nós e não o que queremos que elas ouçam, se fizermos isso conseguiremos sucesso no nosso trabalho”.
Policial Silva Neto.
 Surge daí a ideia de fazer um curso que nos desse capacitação suficiente para desenvolver o assunto proposto e começa aí a nossa história, a história do “Projeto ViVa!!”.
Cada um dos policiais teve um motivo particular para aderir ao projeto e lutar pela sua implementação, o policial Gallina sempre gostou de trabalhar com crianças e adolescentes e manteve-se na idéia, pois tinha tudo a ver com o trabalho que já realizava a mais de quinze anos, o policial Neto lembrava-se de um fato ocorrido com a PM, em Diadema, fato muito divulgado pela mídia onde um mau policial anunciado como “Rambo”, esse policial havia matado uma pessoa por motivo injusto e até porque não dizer imoral, ele declarou que quando aconteceu aquele fato em Diadema, no dia seguinte ele estava indo para o trabalho, e as pessoas olhavam para ele e ele percebia no olhar delas que queriam feri-lo, olhavam com desprezo e ele se sentiu muito mal com aquilo, pensou: “será que pensam que aquele mau policial sou eu, que sou o “Rambo” e a partir daquele momento decidiu que um dia provaria para as pessoas que aquele mau policial não era ele, que era um, entre os milhares de bons policiais que prestam serviço para a população que provaria isso de alguma maneira e quando surgiu a ideia das palestras por policiais viu que era sua chance de explicar que ele não é nem nunca será o “Rambo”.
No meu caso começou muito longe, quando eu tinha 19 anos e durante o velório do meu pai eu fui abordado por uma Viatura da PM, na esquina da minha casa e fui muito maltratado pelos policiais, após uma abordagem indelicada e ríspida, naquela situação, alguns amigos que me acompanhavam explicaram aos policiais que estávamos ali devido ao falecimento do meu pai e que os olhos vermelhos não eram efeito de algum tipo de droga e sim da tristeza de uma perda, me lembro de que após a injusta abordagem foram embora sem nada dizer, talvez o silêncio tenha sido o pedido de desculpas.
Tinha e tenho até hoje, os policiais como meus heróis, como muitos adolescentes têm e apesar daquela grande decepção decidi que mesmo assim realizaria meu sonho de ser policial, mas não seria um policial como aquele, seria bem melhor e mais justo que eles. 
Conseguimos realizar esse nosso sonho logo em seguida, pois foi durante essa busca de conhecimento de como fazer o nosso trabalho que Deus nos mostrou o caminho através de uma oportunidade que tem uma linda história e a partir daí decidimos dividi-la com as outras pessoas, o máximo que conseguirmos, pois temos certeza de que a nossa mensagem é muito importante, importante porque fala da principal coisa que nós temos, fala de nossas vidas, de quanto ela vale e como entenderemos esse valor.
Essa é a meta e o ideal do Projeto ViVa!
“CONHECER O VALOR DA VIDA E DOS SONHOS E TER LIBERDADE PARA PODER REALIZÁ-LOS”

Miguel Jefferson P. Tonhi
Projeto ViVa!